A má influência LGBT, e o porquê você não deve acreditar em mitos

Pedro Izidio
8 min readApr 22, 2021

A sigla LGBTQIA+, refere-se ao prisma da sexualidade que engloba Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Queer, Intersexo, Assexual e mais possibilidades de pessoas terem a liberdade de conhecerem e conviverem com sua sexualidade. Neste artigo, usarei o termo “LGBT” para se referir à comunidade e abordarei figuras que são ótimas influências no contexto social, político, familiar e afins e o porquê de negarem a diversidade sexual.

Como se construiu essa ideia de Gay ser má influência?

Precisamos começar do início. Sabe aquela história de descobrimento; quando os portugueses chegaram por aqui nesta linda terra que já tinha dono? Pois então, com o advento da invasão de terras e imposição de costumes, nosso povo foi ensinado pelos Jesuítas (companhia de Jesus); e isto se faz importante pelo teor pudico do ensino religioso, que relega nossa sociedade a um pensamento retrógrado até hoje. A igreja tem e teve um papel muito forte na construção do imaginário social acerca da persona gay. Sempre lidas como pessoas desprovidas de recato, movidas a sexo e entregues aos prazeres da carne… Assim, como verdade absoluta e incontestável, se impôs a ideia “no grata”.

Em 1986 o pensamento da igreja católica era o seguinte:

“optar por uma atividade sexual com uma pessoa do mesmo sexo equivale a anular o rico simbolismo e o significado, para não falar dos fins, do desígnio do Criador a respeito da realidade sexual”. (Fonte)

Em outras palavras… “Queimar no fogo do inferno”. Socialmente, podemos dizer que a construção de um vilão faz parte do processo de percepção do que é lido como certo e errado, e que esta figura desempenha um papel social e lúdico, também, de direcionar as pessoas ao que elas nāo deveriam fazer, assumindo assim a característica de má influência.

De onde vem os vilões?

Do grego, vilão significa “rival” ou “competidor”. E segundo Aristóteles, “toda narrativa devia possuir algum tipo de antagonismo”, isso era presente na poética daquela tempo (e hoje também, o Big Brother é um forte exemplo disso, de como a relação dualista entre figuras do bem e mal permeiam o imaginário popular). Sendo assim um contraponto para enaltecer a missão do mocinho. Mas mesmo no sentido grego, Mônica Farias (especialista em narrativas da UFPEL), destaca pontos de reflexão, em que os heróis também apresentavam comportamentos questionáveis (Fonte). Zeus por exemplo, e todo o panteão greco-romano, era famoso por trair, matar e punir. Mas o sentido de vilania é estabelecido fortemente com o cristianismo medieval, em que se constrói a figura mais vilanesca do ocidente: o diabo.

“Uma vez que o vilão surge sempre como alguém que encarna os vícios, é injusto, perversor e motivado exclusivamente por interesses pessoais. Ao herói corresponde uma posição oposta. Ele encarna as virtudes, luta pela justiça, nunca perverte a ordem, é ético e é capaz de renunciar a própria felicidade para não prejudicar outrém”. (CAMPEDELLI, 1987, p.54–56)

Este conceito evocado por Campedelli traz luz ao entendimento sobre a necessidade de existir vilōes. Ou seja, à vilania é dada tudo aquilo que “não presta”, e desta forma reforça a ideia de verdade da parte lida como certa. Por isso é interessante que em discursos doutrinários e socio-politicos, sejam construídos vilōes para reafirmar que a pessoa ou grupo que se apresenta como mocinho é diferente de “tudo aquilo” que a figura antagonista carrega consigo. Assim, se utilizou de ferramentas sociais para ir criando a narrativa da vilania gay, utilizando órgãos que detinham o poder. Um exemplo disso é como a OMS mudou sua configuração a respeito dos homossexuais e o quanto isto influi no entendimento social das pessoas. Embora na época o órgão correspondesse à leitura social, não era ele exatamente a força motriz que direcionava o pensamento social. Hoje, por exemplo, as mesmas pessoas que antes apoiariam massivamente a OMS sobre sua definição da homossexualidade “ser uma doença”, a apedrejam pela forma que apresenta os fatos sobre a pandemia do Corona vírus. É importante perceber esses mecanismos para entender que isto, na realidade, se trata de um jogo de poderes e da construção de figuras míticas, detentoras da moral e dos bons costumes.

A ideia dada à comunidade LGBT, por exemplo, é a de “destruir lares”, mas nunca se ouve nada a respeito do abandono paterno, em que somente aqui no Brasil têm 5,5 milhões de crianças sem pai no registro. (Fonte), ou como o machismo trata os casamentos como relação de posse e sobre o feminicídio, onde cinco mulheres são mortas por dia por seus “companheiros”. (Fonte) Isto sim macula lares, pessoas e vidas.

A ideia de promiscuidade e perversão

Aqui, mais uma vez, voltamos a como a religião ditou as regras desde o princípio. As primeiras comunidades cristãs começaram a surgir no século quatro, quando a figura do cristianismo, que até então eram chamados de “nazarenos” passaram de dissidentes para pessoas bem quistas. Assim, o imperador de Roma, Constantino, se converteu ao cristianismo, querendo apoio massivo de uma considerável parte do povo, abrindo a porta para que através do estado a religião se tornasse instrumento de controle. São Paulo, antes conhecido como Paulo de Tarso, foi um importante discípulo, presente na disseminação nazarena e que ajudou a espalhar o entendimento que se tem hoje de pureza carnal. “Bom seria que o homem não tocasse em mulher, mas, por causa da fornicação, tenha cada homem sua própria mulher e cada mulher seu próprio marido”, diz I Coríntios 7:1–2.

O próprio fato da Virgem Maria ter concebido virgem passa a ideia de que a concepção seja algo sublime, mas os meios para alcançá-la, são pecaminosos, sendo este o “pecado original” a qual todos nós viemos a terra. Assim se tem a ideia de seguir a cartilha, e todos aqueles que desrespeitam o que “Deus manda”, são transgressores pervertidos. Mas, a própria doutrina assume a ideia de que o homem é fraco à lascívia, sendo São Tomas de Aquino uma figura que escrevia muito a respeito; segundo o mesmo abdicar de comer carne seria uma prática recomendada para vencer as tentações. Já com Santo Agostinho, por volta do século cinco, a ideia do sexo oral e anal foi fortemente ampliada, em que o Santo disseminou que a ideia de praticá-las era pecado mais grave que o adultério (adultério este que culpava somente as mulheres) (Fonte). No século quinze, tivemos o surgimento da sífilis, trazendo à tona o “castigo divino” na prática sexual, mais uma vez rememorada da concepção cristã, em que no século quinze ainda possuía tremenda força de estado. E assim, na década de oitenta, chegamos à epidemia de HIV, estampada nos jornais como Peste Gay.

recorte de um jornal da década de 60, em que está escrito “Aids é castido de Deus, porque bicha é uma raça desgraçada”
recorte de jornal, datado de 19.11.84, em que diz “Abbatido o 3 gay” e a manchete “Estão matando os travestis a tiro”

Desde o início da epidemia de HIV, em 1980, até junho de 2012, o Brasil registrou 656.701 casos de AIDS (condição em que a doença já se manifestou), de acordo com o último Boletim Epidemiológico” (Fonte)

No começo do surto, os jornais estamparam PESTE GAY, baseados num fundamentalismo tanto religioso quanto pudico. Mas é narrado que em 1960 o preservativo caiu em desuso justamente pela invenção da pílula anticoncepcional (Fonte), mostrando a preocupação com a natalidade, mas não com a agenda sanitária; sendo assim o público heterossexual teve seus desejos atendidos e jogou toda a culpa da disseminação do vírus na comunidade LGBT, a qual falava mais abertamente deste fato. De 1980 a 2010, a exposição ao HIV foi de 20,1% pelo público LGBT+ e de 87,5% pelo público Heterossexual (Fonte), isto porque a comunidade LGBT teve que se privar de seus prazeres devido o imaginário social ter criado a lenda da Peste gay, e pelos fatos narrados acima… os pais de família precisavam de um antagonista para poderem culpar suas traições.

Algumas figuras LGBTs importantes para se conhecer e se inspirar

Keila Simpson

Moradora de salvador e uma das ativistas do movimento LGBT mais respeitados do Brasil, é presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A entidade tem se destacado cada vez mais na produção de dados com importante impacto no conhecimento da situação das pessoas trans no País

Alan Turing

Alan Mathison Turing (23 de junho de 1912–7 de junho de 1954) foi um matemático, cientista da computação, lógico, criptoanalista, filósofo e biólogo teórico britânico. Turing foi altamente influente no desenvolvimento da ciência da computação teórica, proporcionando uma formalização dos conceitos de algoritmo e computação com a máquina de Turing, que pode ser considerada um modelo de um computador de uso geral. Ele é amplamente considerado o pai da ciência da computação teórica e da inteligência artificial. Apesar dessas realizações, ele nunca foi totalmente reconhecido em seu país de origem durante sua vida por ser homossexual.

Duda Salabert

Fez história ao ser a pessoa mais votada nas eleições para a câmara Municipal de BH não só de 2020, mas de toda história da capital mineira. É uma importante voz na luta pelos direitos LGBTs e recentemente criticou colegas de agremiação por votos contra a cidadania trans na câmara dos Deputados

Rita Von Hunty

Drag queen que leva a centenas de pessoas debates acerca de exploração da força de trabalho, desigualdade social e facismo. Ela da ao seu público opiniōes acerca de relacionamento, voto, discriminação, autoestima.

Thaly Sanches

CPO do Todas as Letras, Thaly é uma pessoa que busca sempre auxiliar as possibilidades da comunidade LGBT de alcançar espaços de direito. Como o mesmo descreve “Meu objetivo é materializar projetos, produtos, serviços ou negócios auto-sustentáveis e escaláveis que possam melhorar a vida das pessoas. Em especial daquelas em situação de vulnerabilidade social”.

Erika Hilton

Ao ser a primeira trans feminina eleita para a câmara Municipal de São Paulo, ela tornou-se símbolo político e na mídia nacional e internacional. Levou a sexta colocação no ranking de quem mais recebeu votos pela disputa, com 50.508 votos.

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Pedro Izidio

Formado em Design, pós graduado em Design de Interação, atua como UX | UI Designer desde novembro de 2019, estando estudando e se aprofundando na área.